Pessoal, esse post complementa o que foi discutido na nossa reunião do Comitê de Segurança Operacional (CSO), em 22/06/2021. Nessa oportunidade, apresentei um estudo de caso do PT-KLO, acidentado em 27/05/2019, com base no relatório do CENIPA. Esse acidente, assim como vários outros da aviação geral, demonstra a importância de um planejamento meteorológico detalhado, voltado não somente para as condições dos aeródromos de origem e destino (tradicionais METAR/TAF), mas também para as condições em rota. Existem diversas fontes de informação para essa avaliação, todas disponíveis no REDEMET, e o objetivo aqui é fazer uma revisão de alguns produtos meteorológicos disponíveis para o voo em rota: Cartas de Vento: apresentam previsões sobre a temperatura (temperaturas negativas apresentadas sem sinal), direção e intensidade do vento para todo o território nacional. Interessante notar que existem cartas para o FL050 e FL100, que são bastante adequadas para o perfil de operação do ACSJC. Pense nos símbolos como se fossem flechas: a direção é dada pela ponta, enquanto a intensidade é dada pelos símbolos na cauda (triângulo são 50 nós; traço grande, 10 nós; traço pequeno, 5 nós). O nível de voo e período de validade são dados no canto inferior esquerdo da carta. Cartas SIGWX: as cartas de tempo significativo apresentam previsões sobre as condições meteorológicas para todo o território nacional. De especial interesse são as cartas com informações da superfície até o FL250. Possuem informações sobre convergência intertropical (ITCZ), frentes, centros de pressão e nuvens. São cartas com muitas informações e simbologias nem sempre intuitivas e por isso demandam certa familiaridade. Para o escopo desse tópico, as informações sobre tipo de nuvens, assim como base e teto são as mais importantes. Na figura abaixo, por exemplo, temos CB isolados embutidos, com base em 3000 pés e com topo fora dos limites verticais dessa carta.
O Anexo X da ICA 105-17 provê mais detalhes sobre as abreviações e simbologia de nuvens:
GAMET: apresenta as condições meteorológicas previstas para níveis baixos referente a uma FIR (ou setores de FIR). Trata-se de um produto meteorológico pouco conhecido, mas MUITO importante para o nosso perfil de operação. Sua linguagem é composta por abreviações e referenciadas por coordenadas geográficas. Por isso, é necessário tempo para plotar as coordenadas e compreender as informações contidas. É divido em duas seções (I e II). A primeira contém informações sobre fenômenos meteorológicos perigosos e a segunda contém informações adicionais requeridas. O anexo G da ICA 105-17 contém mais informações sobre a estrutura desse produto meteorológico. As informações devem ser acessdas em Produtos > Mensagens > FIR > GAMET (consulta por FIR), como mostram as figuras abaixo:
Imagens de Satélite: ao contrário dos produtos anteriores, que apresentam previsões, as imagens de satélite apresentam informações passadas. Apesar disso, a sucessão das imagens permite identificar o sentido de deslocamento de fenômenos meteorológicos. Através da visualização de IR (infra-vermelho) realçada, é possível ter uma ideia da temperatura do topo da nuvem, que por sua vez, se relaciona com a sua altura. Cores mais vibrantes, portanto, mostram nuvens com topos mais altos (não se pode concluir nada sobre a altura da base, nesse caso). Cores cinzas/esbranquiçadas, por sua vez, são indícios de nebulosidade em níveis baixos. A figura a seguir, extraída do relatório do PT-KLO, ilustra essa característica.
Imagens de Radar Meteorológico: assim como as imagens de satélite, mostram informações passadas, mas que que servem para identificar a posição e o sentido de deslocamento de formações. Atenção especial deve ser dada ao alcance do radar (que é mostrado em área sombreada no REDEMET) e também às limitações do mesmo (por exemplo, fenômenos em baixa altura nem sempre serão captados pela inclinação do feixe do radar). As cores da imagem medem a refletividade, ou seja, indiretamente medem a quantidade de água naquela formação. Cores mais vibrantes indicam maior quantidade de água. A seleção de "MaxCappi" apresentada a combinação dos cortes (planos) com maior refletividade. A figura a seguir, do relatório do PT-KLO, ilustra uma imagem de radar:
Além dos produtos anteriores, na fase de planejamento de voo, há ainda o recurso do CIMAER (Centro Integado de Meteorologia Aeronáutica, pelo telefone (21) 2101-6865.
Finalmente, já em voo, é possível a consulta ao VOLMET nas frequências da figura a seguir:
O objetivo desse post não é ser um curso de meteorologia, tampouco um guia definitivo sobre planejamento meteorológico, mas sim apresentar produtos e recursos meteorológicos nem sempre conhecidos ou explorados durante o dia-a-dia das operações. Espero que tenham gostado! Divulguem!
Escrito por Carlos Eduardo Bordignon Martinez.